O que é o dom? Não conseguimos mensurar o dom. Não conseguimos definir o que é dom e o que é prática. Também ouço constantemente: “Eu posso fazer aula de costura? Não tenho nenhum dom para trabalhos manuais”. Sempre respondo: “Também achava isso quando comecei a costurar e, hoje, esse é o meu trabalho”. Entre as minhas respostas já elaboradas, também digo: “Tenho várias alunas que começaram as aulas sem saber costurar e, atualmente, fazem diversas peças de roupa para elas”. É verdade. Tudo o que eu digo sobre isso vem das minhas experiências próprias.
Não sei se alguém nasce criativo. Como podemos saber? Não sei se alguém nasce habilidoso… Talvez, tenha uma tendência para determinada habilidade, como o Neymar tem para o futebol. Mas será que se ele não treinasse muito, desde criança, ele seria quem é? Existem algumas habilidades que podemos chamar de dom, mas o principal desse texto é compreendermos que não existe dom sem prática, treino e dedicação.
Só consigo escrever com os meus cadernos abertos, relendo insights que eventualmente tive, recebendo, o tempo todo, referências externas, acompanhando pessoas que considero importantes e produzem conteúdos relevantes que vão de encontro às minhas ideias e valores. Sem isso não escrevo nada e, mesmo com todas essas informações, me encontro em uma permanente confusão mental. Há uma frase famosa e clichê que diz “A inspiração existe, mas ela precisa te encontrar trabalhando”. E há sempre a incerteza se o que fazemos está bom o suficiente. Bom, o suficiente já é bom. Nunca vai haver o “perfeito”. Haverá melhora diária e aquilo irá se tornar o novo “suficiente”.
Várias vezes me questionei se o vídeo que estava postando no YouTube e que iria ser assistido por milhares de pessoas, estava bom o suficiente. Muitas dessas vezes, não era o “perfeito”, mas sim o que pude fazer de melhor com o tempo de que dispunha, com os recursos que tinha, com o cansaço daquele dia… E estava bom. Isso pôde me dar estruturas para eu procurar fazer melhor. Não adianta eu pensar hoje, em fazer um vídeo incrível, com uma edição de um programa “fera” (que, aliás, deixa meu computador lentíssimo), com costura e imagens supremas. Eu sempre gravo à noite, depois de horas de aula e preciso editar os vídeos nos intervalos entre uma e outra. Preciso fazer o que consigo, senão não irei fazer nunca… E sim! É bom o suficiente. Sim, me faz querer apenas melhorar, melhorar e melhorar…
Depois de tudo isso, o que eu quero dizer é que se você não trabalhar uma habilidade que você pode ter ou não, ela nunca irá se desenvolver. E você pode ter “nascido sem o dom” e, mesmo assim, trabalhá-lo para ser bem sucedido nele. Você pode ficar sempre com medo de se expor e ser criticado por isso (eu tenho esse medo diariamente), mas se você não tentar fazer uma, duas, três, dez vezes, de maneiras diferentes, com carinho, colocando o seu coração nisso, você não irá para frente, não irá, nem ao menos, saber o que poderia ter sido se tivesse tentado.
Você pode trabalhar com a escrita, mas ter uma paixão por pintura, por exemplo. Quem disse que não pode? No mundo de hoje, tudo é possível! Você tem milhares de informações e, se focar, poderá ser um artista plástico escritor. Quem disse que não? Quem disse que você não pode criar uma profissão? Quem disse que precisa ser uma profissão? Pode ser um estilo de vida. O meu trabalho é meu estilo de vida, não me desligo nunca. Não quero pensar em segundas, sextas e finais de semana. Quero uma vida sem essas regrinhas chatas e sem definições. Eu costuro, pinto, desenho, escrevo, falo, filmo, tiro fotos, faço marketing da maneira que posso, com as referências que eu vejo, procurando sempre melhorar. Se daqui cinco anos eu resolver fazer esculturas de argila, posso mergulhar de cabeça e me tornar uma escultora =P Ninguém sabe, nem ao menos eu. E talvez, essa confusão mental seja o melhor da vida.
E então, qual é o “dom” que você deseja atingir?
Lara Rogedo